segunda-feira, 22 de abril de 2013

Deus

"Quem é ateu e viu milagres como eu..."
(Caetano Veloso)


Não é que eu não acredite em Deus. Eu acredito em tudo. A saudosa Lyálorixá Mãe Menininha do Gantois costumava dizer algo que gravei imediatamente: "Acima de Deus, nada. Abaixo de Deus, tudo". Durante muito anos essa frase foi um koan objeto de minhas meditações. E eu que já tinha tido tanto preconceito contra o candomblé e as religiões africanas! Uma frase de Mestre, de mestre com M maiúsculo.

E, mais do que isso, uma frase muito zen. E a chave para isso está na palavra "tudo". Tudo, inclusive Deus. Uma frase circular quando vista por este ângulo. Ou Deus seria algo de tão absolutamente absoluto que seria fora de todo tudo. E nesse caso, seria uma frase circular do mesmo jeito. Um tal Deus estaria absolutamente fora de nosso alcance. Do alcance de nosso pensamento, inclusive de nossa fé.

Uma outra coisa interessante me disseram outro dia também sobre Deus. Que Deus é luz, mas você não deve olhar diretamente para ele - pois luz demais, cega. É luz para se olhar em volta. E, outra vez, as sombras aparecem. Pois tudo o que há em volta só pode ser visto por um jogo de luz e sombras. Quando se olha diretamente para Deus, nessa metáfora, ele se transforma em Lúcifer, a própria figura da sombra que carrega luz no seu nome.
Deus não é fácil. mas também não precisa ser difícil. É fácil usar Deus como motivação máxima não só dos nossos desejos mesquinhos de oprimir e matar os outros em nome da (nossa) religião. É facil usá-lo também para justificar nossa capacidade de amar e acolher os outros.

Eu, do meu lado, não gosto muito de usá-lo. Prefiro deixá-lo livre e justificar minhas ações com minha humanidade e com tudo o que carrega alguém que tem como origem, casa e abrigo o planeta terra e tem como pai, mãe, irmãos, tios, avós e primos, toda a vida orgânica e inorgânica desse planeta.

Hoje em dia, convido todos os Deuses à minha casa. Não tento ver a face oculta de cada um deles - senão não seriam o que são, mistérios. Tento conversar com eles deixando-os cobertos com os véus que lhes são próprios e a minha casa se enche de névoa e, ao mesmo tempo, da luz que dizem carregar. Luz que causa sombras, pois só há sombras quando há luz! Por isso é bom quando chegam de dois ou mais, pois com mais luz em diferentes espaços, as sombras recuam.

Recuam, mas não desaparecem. Pois se as sombras desaparecerem, terá sentido ainda falar em luz?

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