Não sabia que havia nascido no centro do mundo.
Filho legítimo da caatinga,
Mas de pai desconhecido...
Talvez minha mãe tenha sido fecundada pela constelação de escorpião - estrelas que velam as minhas noites e que são sempre as primeiras que vejo quando me permito olhar pra cima.
Talvez tenha sido fecunda pela água, tão rara que não canso de admirar o milagre que é sua queda do céu!
Ou pelas pedras dessa paisagem, cujas formas sempre alimentaram minha fantasia...
Agradeço o fato de não ter pai
E assim poder vê-lo em todo canto.
Um pai feito de sonho e melancolia
Mas sempre presente
Aonde quer que eu vá...
Nasci no centro do mundo.
Quixeramobim, minha Macondo!
Minha Lisboa infinita!
Minha Dublin chuvosa em meio aos cactos.
O sol se ajoelha diante de ti todo fim de tarde
E repousa suas mãos flamejantes na serra de Santa Maria
Para espalhar essa luz entre dourada e laranja
Nos teus campos secos.
A caatinga dorme, esperando o regresso do marido
Que vem com as chuvas...