domingo, 30 de junho de 2013

Amores e outras

"O TEU SILÊNCIO é uma nau com tôdas as velas pandas... 
Brandas, as brisas brincam nas flâmulas, teu sorriso... 
E o teu sorriso no teu silêncio é as escadas e as andas 
Com que me finjo mais alto e ao pé de qualquer paraiso... 

Meu coração é uma ânfora que cai e que se parte... 
O teu silêncio recolhe-o e guarda-o, partido, a um canto..."
(A Hora Absurda - F. Pessoa)

Tenho pra mim que todos os encantos se desfizeram no ar
e a bruma perfumada da floresta vai atrás dos seus rastros.
Mas a noite caiu mas rápida e mais insana, ainda que silenciosa,
e encontrou meu coração partido na varanda...

Não consegui recolher os cacos, pois eram muitos.
Apenas os varri para o jardim...para que os passarinhos os comêssem!
Mas algo bate aqui dentro, não sei...
Talvez, seja o eco dos outros corações partidos antes...

Distância, distância...beleza e inferno 
Das montanhas do Espírito Santo.

Escorpião

Por que será que sempre que olho pro céu
a constelação de escorpião é sempre a primeira coisa que vejo?
Quando estava na Europa nunca conseguia vê-la
por que aquele céu é meio estranho...
Olhava pro céu e não reconhecia nada!
Até que um dia, às 4 da manhã, na porta da sala de meditação em Plum Village,
vi-a surgindo no horizonte...Imensa, linda...
Será que é por ela fazer um S?

Chão de estrelas

Sozinho na varanda.
São sete e meia da noite, mas parece meia-noite.
Quando olhei pro céu me lembrei da música
E entendi o que é um chão de estrelas...
As minhas roupas, no varal.
O cachorro vira-lata perto, me fazendo companhia...

"Nossas roupas comuns dependuradas
na corda, qual bandeiras agitadas,
parecia um estranho festival!
Festa dos nossos trapos coloridos
A mostrar que nos morros mal vestidos
é sempre feriado nacional..."

Linda, antiga, meiga, doce...

Na minha varanda, um chão de estrelas...
E ninguém no barracão à minha espera.
Apenas elas como esperança...

quinta-feira, 27 de junho de 2013

Já fui rio

Pháp Giang foi o nome me dado por Thich Nhat Hanh. Giang significa rio e pháp, Dharma, em sino-vietnamita. Meu amigos franceses me chamavam de Frère Rivière, alguns amigos ingleses me chamavam de Brother River e os vietnamitas brincavam me chamando de Brother Amazon.
Nunca pensei ter merecido esse nome. Os nomes de monges, segundo se diz, são como koans. Deve-se refletir sobre ele e descobrir algo sobre si mesmo.
É a minha herança da minha época monástica. Todos os dias penso sobre isso, afinal, rio é uma grande metáfora.
Serei eu um rio?
Terei sido um rio?
Que rio é esse que corre dentro de mim?
Que rio é esse que eu navego todos os dias?
Que fluxo é esse, além de todos os meus pensamentos, é claro, que, ás vezes, toma conta de mim?
O rio corre e eu corro e tento não não correr.
Não procuro ver as margens como opressão, mas como algo que está ali para eu transformar - afinal, não há margens que resistam ao rio, depois de algum tempo.
E as margens viram sedimentos.

Rios de lembranças também.
Rios de vidas, de carros, de água.
Rios que se transformam em lagos, lagos que que se movem e se transformam em rios.
Sou um rio, se sou algo...Como todo mundo.
A diferença é que fui rio, uma vez.

quarta-feira, 26 de junho de 2013

Manifestações

O país está pegando fogo, parece...
Mas minha única tv é o mato em torno de casa.
Minha internet é lenta...Só sei das coisas pelo twitter, que é leve de carregar.
Pra quem está envolvido parece que todos estão envolvidos.
Mas eu estou envolvido apenas pela manhã.
Dedico minhas meditações a quem está na rua.
No resto do dia cuido de mim, do cachorro, do gato e da floresta...

Folhas

Descobri que inhame parece uma planta decorativa.
Sempre confundo uma imbaúba nova com um mamoeiro...Coisa de nordestino.
O barulho mais característico daqui é a queda das folhas da imbaúba.
São folhas grandes e pesadas e fazem muito barulho.
No começo sempre pensava que era outra coisa, um bicho.
Elas fazem um barulho quando quebram e quando caem...

Amanhece

O beija-flor já veio visitar o jardim.
os jacus já espreitam.
o cachorro já olha olha com olhar de interesse...
Até um canário já passou por aqui.
Amanheceu na Capijuma...

Já pendurei o gonzo no pescoço do gato
(os passarinhos sempre irão saber quando ele estará por perto!)
Já botei a comida do cachorro
e espalhei farelo de pão pras galinhas.

Agora é a minha vez.
Pó de café, abacate, pão...
geléia de laranja, amendoim aveia...
Vou assistir ao jardim na varanda.

terça-feira, 25 de junho de 2013

Lua

Como dizia uma música que eu costumava ouvir na Rádio Difusora Cristal de Quixeramobim :
"A lua vem surgindo cor de prata
No alto da montanha verdejante...
A lira de um cantor em serenata
Reclama da janela a sua amante!
Das cordas de um sonoro violão
Confessa um seresteiro à sua amada
O que dentro lhe dita o coração"
Orlando Silva

Amores e outras

O meu amor é como um espelho ao sol.
Ilumina mas não se aquece...

A minha dúvida é como um vela.
Não ilumina muito, mas queima...

Estar só é como estar acompanhado de todo mundo.
Mas todo mundo não pode estar na sua cama...

Aprendiz

É um lugar comum se dizer que no zen é preciso ter mente de aprendiz. Parece fácil. Principalmente quando se está falando de um estado da mente em que se está aberto à novidades...
O problema é quando falamos de abertura para sermos ensinados. Especialmente pessoas como eu que sempre sabem de tudo...
Nunca queremos um mestre. Queremos sempre ser  o nosso próprio mestre.
Até aparecer o ponto cego...

segunda-feira, 24 de junho de 2013

Solidão

Estou no mato com um cachorro.
E com um gato.
Afora todos os bichos da floresta que estão lá fora.
É.
É uma solidão meio que acompanhada...

domingo, 23 de junho de 2013

Escorpião

O meu amor mora em Escorpião,
Minha constelação favorita.
Mesmo que não seja esse o signo dele...

No frio, eu fico observando...
Prefiro o escorpião à lua...
Tirei uma foto, uma noite dessas,
para ofertar como uma flor...
Besteiras da solidão.